LEMBRAR PARA APRENDER

Ao longo de seminário, palestrantes relembram as dificuldades enfrentadas na pandemia de Covid-19

12/03/2024
Sergio Alberto

No primeiro dia de debates do seminário para concepção e criação do Memorial da Pandemia, nesta segunda-feira (11), a transversalidade das políticas públicas foi o assunto que transcendeu as quatro mesas temáticas ao mostrar que a união faz a força quando se trata de cuidar da população, da saúde à cultura, passando pela ciência, comunicação, economia, infraestrutura, dentre tantas outras.

Nesse sentido pode-se dizer que o SUS é um grande exemplo dessa força, representado por trabalhadoras e trabalhadores da saúde pública desde a figura dos agentes comunitários de saúde (ACS) até aos cientistas e pesquisadores responsáveis por elaborar em tempo recorde vacina que salvou milhares de vidas. Por outro lado, diante do negacionismo exaltado pelo governo à época, foi a sociedade civil organizada, unida à comunidade cientifica e movimentos sociais que foram os grandes combatentes ao coronavírus que matou mais de 700 mil brasileiros e brasileiras. 

O primeiro debate da manhã apontou, por meio dos parlamentares atuantes na CPI da Covid, os erros ocorridos na gestão governamental da época, com a recomendação de medicamentos ineficazes ao vírus em detrimento da vacinação, dentre outras situações.

O senador Humberto Costa destacou que, somente a partir dos trabalhos do colegiado, instalado em 2021 pelo Senado, que o país conseguiu obrigar o governo a se mover para a compra de imunizantes.

Também integrante ativo da CPI, o senador Randolfe Rodrigues lembrou a importância que a empresária Luíza Helena Trajano teve para a entrada das vacinas no país e apresentou ao público o livro que trata do desenrolar e conclusões da comissão, bem como seus resultados. Trajano parabenizou a iniciativa do governo de criar o memorial.  “Não devemos esquecer essa lição de vida que a gente teve e quero agradecer tanto a ministra Nísia quanto ao presidente Lula pela iniciativa de criar memória para lembrar do que passamos”, disse.

Na segunda mesa temática, que tratou do desenvolvimento de vacinas e testes de diagnóstico em tempo recorde, o presidente da Fiocruz, Mário Moreira, pontuou as ações emergenciais da instituição, como a instalação de centrais de testagem da vacina em quatro regiões do país: Paraná, Rio de Janeiro, Ceará e em São Paulo com colaboração do setor privado. “Essa organização se deu a partir de um movimento inédito no Brasil de mecenato e filantropia que tinha um conjunto de empresários, mas sobretudo da riqueza e pluralidade de pessoas, associações, serviços e entidades privadas que queriam colaborar com a Fiocruz para que ela pudesse acelerar a testagem para imunização em massa”, lembrou. 

Saúde com Ciência 

Na parte da tarde, o painel “Informação como aliada da ciência durante e depois da pandemia” destacou o papel da imprensa e o enfrentamento ao negacionismo e movimentos antivacina. Neste momento, a coordenadora do programa Saúde com Ciência, Yole Mendonça, apresentou dados apontando que 188 milhões de usuários são potencialmente impactados com a desinformação, segundo levantamento feito pelo Ministério da Saúde entre julho e novembro de 2023. 

Segundo Yole, foi triste constatar a alta queda nas vacinações quando a atual gestão assumiu. Foi quando a pasta da saúde, junto da Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência da República, iniciou um projeto de combate digital às fake news para tentar retomar as coberturas vacinais. “Tivemos de entender como fazer o enfrentamento e o ponto principal era a desinformação espalhada por meios digitais”, diagnosticou a assessora especial da ministra da Saúde. 

“Museu muda a sociedade”

O médico e cientista Dráuzio Varella disse, por sua vez, em participação online, que jamais poderia imaginar que no Brasil existisse tanta gente falando contra a vacina. Ele defende que essas pessoas que estiveram à frente da disseminação de desinformação contra a vacina respondam por crimes contra a saúde pública.

Ainda no formato online, o influenciador Felipe Neto alegou que vivemos uma crise nacional de comunicação e “é muito importante que tenhamos os olhos voltados para isso”, enfatizando o aumento das fake news. Em sua fala final, Felipe apoiou a iniciativa do Ministério da Saúde e clamou pela criação de mais museus, pois “um museu muda toda uma sociedade porque nos faz lembrar e se não lembrarmos, repetimos”. 

O último debate do dia trouxe a reflexão sobre a mobilização da sociedade civil para o enfrentamento da pandemia, a saúde como direito e o papel do SUS e dos profissionais de saúde e as respostas exitosas da sociedade civil organizada. “A concepção de um projeto museológico para o futuro significa que queremos preservar a memória de todas e todos que foram vitimados por esse vírus”, destacou o Secretário Nacional de Participação Social da Secretaria Geral da Presidência da República, Renato Simões. 

Para o presidente da Central Única de Favelas (CUFA/Rio), Preto Zezé, foi na favela que o vírus chegou com mais força. “Quando diziam que era para ficar em casa, ninguém da favela entendeu nada porque ninguém ficava em casa justamente porque tinha que entregar comida na casa das pessoas que não podiam sair de casa por causa da pandemia” lembrou Zezé. “Como que numa família de mais de seis pessoas dentro de casa ia ficar dentro de casa na favela durante a pandemia? Tivemos de escolher, dentro das residências, quem ia se afogar na tempestade”, completou o militante. 

Respondendo pela comunidade indígena, Marsiano Arpinsul, da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), afirmou que nesse período de emergência sanitária, quando os povos indígenas deveriam ser amparados, aconteceu o contrário. “Estávamos numa conjuntura política complicada e a pandemia foi muito difícil diante da complexidade que são os povos indígenas por conta de seu contexto cultural, com mais de 320 etnias e 280 idiomas”, lamentou Marsiano. 

O evento continua nesta terça-feira (12) e pode ser acompanhado pelo site memorialpandemiacovid19.com.br, com mais duas mesas de debates. O encerramento se dará com a assinatura de um Memorando de Entendimento entre Saúde e Cultura, com a participação prevista das ministras Nísia Trindade e Margareth Menezes. 

Fonte:Ministério da Saúde