Saúde e Vigilância Sanitária

Luto prolongado é um transtorno mental, segundo a Organização Mundial da Saúde

23/09/2022
Luto prolongado é um transtorno mental, segundo a Organização Mundial da Saúde

Em 2022, o luto prolongado passou a ser considerado um transtorno mental na nova versão do manual de diagnósticos de transtornos mentais da Associação Americana de Psiquiatria (APA) e também na Classificação Internacional de Doenças (CID-11), elaborada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O luto é um processo natural, caracterizado pelo sofrimento e pela saudade, normalmente desencadeado pela perda de algo ou alguém.

Qualquer situação atrelada a um vínculo afetivo e que por algum motivo leve à perda, pode desencadear o luto. Mas esse processo pode se tornar um transtorno quando se estende por longos períodos, causando uma dor constante, onde a pessoa se torna incapaz de restabelecer sua vida de maneira funcional.

O luto prolongado possui sintomas semelhantes aos da depressão e da ansiedade. A diferença é o fator motivador para o sofrimento. No luto prolongado, a perda sempre será o gatilho.

A psicóloga e professora do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Samantha Mucci, explica que no processo de luto natural, a perda é marcada pela dor aguda que com o passar do tempo vai sendo ressignificada, diferente do que acontece no luto prolongado. “Há momentos em que a pessoa vai ficar mais voltada para a perda e, em outros, onde ela vai retornar à sua vida de trabalho e estudos. Quando esse indivíduo fica muito voltado para a perda e não consegue retomar a vida e se reintegrar com lembranças, podemos pensar num processo de luto prolongado”, detalha.

Durante a infância, o cuidado também é essencial. “Até os 10 anos de idade a criança não tem compreensão de como a morte funciona, ela acha que a pessoa ainda pode voltar, então acaba criando fantasias e pensamentos mágicos”, explica Samanta, que acrescenta que transtornos do humor que não são tratados na infância e na adolescência contribuem para que na vida adulta, o indivíduo apresente uma predisposição maior para o desenvolvimento de doenças físicas e transtornos de saúde mental.

Sintomas

Entre crianças e adolescentes o luto prolongado geralmente vem acompanhado de sentimentos de abandono e rejeição. Nessa fase, alguns sinais devem ser observados:

  • Ficar isolado;
  • Ficar mais retraído;
  • Apresentar dificuldade de concentração;
  • Apresentar dificuldade de socialização;
  • Apresentar sofrimento agudo.

O luto sempre está atrelado a perdas, mas não está relacionado somente à morte. A perda de vínculos familiares pela separação dos pais, por exemplo, também pode ser gatilho para o luto prolongado.

Na vida adulta, os principais sintomas do luto prolongado estão relacionados a:

  • Dificuldade de concentração;
  • Dificuldade de produção;
  • Sentimento de desvalorização da vida;
  • Sentimento de incapacidade.

“No adulto, a dor está muito mais ligada à vontade de viver ou não e à vontade de produzir. A pessoa começa a ter sintomas como perda de libido, de desejo, de vontade de namorar, de ter vida pessoal. Ele vai se isolando também, como a criança e o adolescente, mas com uma intensidade diferente”, esclarece a psicóloga.

SUS

O Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza atendimento para pessoas em sofrimento psíquico por meio dos serviços da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). A Atenção Primária à Saúde é a porta de entrada para o cuidado e desempenha papel fundamental na abordagem dos Transtornos Mentais, principalmente os leves e moderados, não só por sua capilaridade, como também por conhecer a população, o território e os determinantes sociais que interferem nas mudanças comportamentais, dispondo de melhores condições para apoiar o cuidado.

Diferentes níveis de complexidade compõem o cuidado, sendo os CAPS, em suas diferentes modalidades, pontos de atenção estratégicos da RAPS. Serviços de saúde de caráter aberto e comunitário, constituído por equipe multiprofissional e que atua sobre a ótica interdisciplinar, podem ser encontrados. Também estão disponíveis as Equipes Multiprofissionais Especializadas em Saúde Mental (AMENT), que têm como objetivo atender casos moderados de ansiedade e depressão.

Setembro Amarelo

Durante o mês de setembro, o Ministério da Saúde divulga uma série de conteúdos sobre a importância da conscientização e do cuidado com a saúde mental. Informação é o primeiro passo de qualquer tratamento. Acompanhe:

  • Anualmente, mais de 700 mil pessoas cometem suicídio, segundo OMS
  • Mais de 70 milhões de pessoas no mundo possuem algum distúrbio alimentar
  • Entre 5% e 8% da população mundial apresenta Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade
  • Transtornos de ansiedade podem estar relacionados a fatores genéticos
  • Na América Latina, Brasil é o país com maior prevalência de depressão

Fran Martins
Ministério da Saúde

Fonte:Ministério da Saúde