Saúde e Vigilância Sanitária

Doação de órgãos: a difícil e generosa decisão de Renata, mãe de Aline

03/10/2022
Arquivo pessoal

Você doaria os seus órgãos? E os do seu filho? Pensar nessa hipótese é dolorido porque pressupõe a perda. Mas felizmente alguns pais e mães entenderam que a dor deles pode se transformar na alegria de outra pessoa. Foi com esse sentimento que a engenheira civil, Renata Muller, de 52 anos, doou os órgãos da sua filha. “Aline era uma criança especial, pois nasceu com hidrocefalia. Descobri ainda grávida. A decisão de tê-la estava em nossas mãos e decidimos lutar com todas as forças para que ela viesse ao mundo, e assim foi feito”, conta.

Natural de São Paulo/SP, Aline nasceu prematura, com 25 semanas de gestação. Ainda dentro da barriga da mãe, passou por uma cirurgia para colocar uma válvula na cabeça. “Já havia a possibilidade dela nascer antes. Os médicos me deram remédio para o amadurecimento do pulmão e ela nasceu superbem”, relembra Renata. Aline viveu três anos e desde o nascimento era uma criança feliz, mesmo com tantos tratamentos e cirurgias.

Um casal de amigos próximo de Renata contou que teriam a mesma atitude de continuar com a gestação e mesmo que a criança não sobrevivesse, teriam a oportunidade de conhecer o bebê e ainda doariam os órgãos. “Sempre quis ser doadora de órgãos, mas quando se trata de um filho, isso nunca passa pela nossa cabeça, então aquilo ficou marcado”, recorda a mãe de Aline.

Na Semana Santa do ano de 2002, a pequena Aline passou mal e foi constatada morte encefálica. “A primeira coisa que veio à minha cabeça foram as palavras do nosso amigo e a primeira coisa que falei foi que ela seria uma doadora. Assim, muitas mães e pais não sofreriam a mesma dor que eu estava sentindo, que é a perda de um filho”, confessa Renata.

De um lado, pais e mães esperam pela doação que pode salvar a vida da criança. Do outro, os que vivenciam o luto de um filho que se foi. Quando essas duas histórias se cruzam, o sofrimento abre caminho para a esperança. Renata conta emocionada que, mesmo após vinte anos, espera que em algum lugar, as seis crianças, hoje adultas, que receberam os órgãos, estejam bem, pois reza sempre por elas, desejando saúde e amor.

“Aline veio a esse mundo com um propósito: amar e ensinar o amor, acima de qualquer coisa. Tenho certeza que ela também é grata por ter ajudado tantas vidas”, acrescenta Renata, emocionada.

Realidade no Brasil

O maior programa público de transplante de órgãos, tecidos e células do mundo, que é garantido a toda a população brasileira de forma integral e gratuita por meio do Sistema Único de Saúde (SUS).

O Brasil é o segundo país do mundo que mais realiza transplantes. Em 2021, foram feitos cerca de 23,5 mil procedimentos. Desse total, cerca de 4,8 mil foram transplantes de rim, 2 mil de fígado, 334 de coração e 84 de pulmão. O país tem mais de 600 hospitais de transplantes autorizados.

Um único doador pode beneficiar até oito pessoas com o transplante de órgãos e tecidos. Esse ato de amor e solidariedade é tema da Campanha Nacional de Incentivo à Doação de Órgãos e Tecidos de 2022, que destaca a importância de se declarar um doador.

 

Karol Ribeiro
Ministério da Saúde

Fonte:Ministério da Saúde